31/03/2014.
Último dia na Cidade do Cabo. Dia reservado para conhecer a Robben Island, ilha que abriga a prisão de segurança máxima, agora museu, onde Nelson Mandela ficou preso por 18 anos.
Conforme informações no ingresso e no site do museu, o ferry que leva até a ilha parte do V&A Waterfront às 9h, 12h e 15h, e é solicitado estar no píer com 30 minutos de antecedência. Nosso bilhete era para o primeiro horário, então 8h deixamos o hotel. Seguindo nossos planos, descemos sem as malas e com o bilhetinho para deixar na recepção.
E não é que, finalmente, havia alguém na recepção!? Explicamos nossa situação, voltamos para buscar as malas no quarto, fizemos o check-out e deixamos as bagagens guardadas ali até voltarmos do passeio, por volta das 14h1.
Já mais tranquilos, seguimos para o píer.
Robben Island, a prisão de segurança máxima
Para embarcar no ferry é necessário passar por um detector de metais logo depois que uma pessoa confere a validade do ingresso. A embarcação nem esperou 9h para partir; saiu aproximadamente às 8h40min, chegando à ilha por volta 9h26min.
Ou seja, o percurso até a ilha demora bem mais do que os trinta minutos informados no site.
Uma vez a ilha, nós não vimos ninguém do museu para prestar orientações sobre para onde deveríamos ir. O pessoal que desceu primeiro seguiu em direção a um ônibus estacionado ao lado da entrada da prisão, um pouco distante do píer, e nele foram entrando. Então nós os seguimos.
Logo depois uma guia se apresentou e, já com o ônibus em movimento, começou a contar a história do local. O ônibus faz um tour pelo lado de fora da prisão, passando primeiramente pelo Moturu Kramat, um local sagrado de peregrinação muçulmana em Robben Island, construído em 1969 para comemorar Sayed Adurohman Moturu, o Príncipe de Madura. Moturu foi exilado para a ilha em meados da década de 1740 e lá morreu em 1754.
Logo em seguida vimos Robert Sobukwe House, local para detenção em confinamento solitário sem julgamento por 90 dias. Havia também um canil.
Passamos pela pedreira de calcário onde os detentos eram enviados para o trabalho duro. O pó de calcário causava danos aos pulmões e as rochas era incrivelmente brilhantes sob luz solar direta, provocando deficiências visuais.
Ali na área aberta onde os presos trabalhavam havia um buraco numa rocha, onde a guia nos explicou que era o abrigo dos prisioneiros nos dias de chuva, e que também servia de banheiro. Imagina a situação.
Robben Island, além de prisão, também foi utilizada como estação de abastecimento e como local de isolamento de leprosos, cegos, loucos, de pessoas gravemente doentes, que morriam na ilha. Vimos o cemitério chamado de Leper Cemetery, ou cemitérios dos leprosos. Havia também a Leper Church (igreja dos leprosos).
Vimos também outras construções do que foi uma vila, como escola, casa do governador, ginásio, igrejas etc. Um tour virtual na ilha pode ser feito no site oficial.
Depois o ônibus parou num ponto onde é nós pudemos descer para comprar alguns lanches rápidos ou usar o banheiro. E também fotografar a Cidade do Cabo e a Table Mountain, claro.
Voltamos para o ônibus e seguimos até a prisão de segurança máxima, onde, a partir dali, seríamos guiados por um senhor negro que ficou preso ali por nove anos. Ele conta com detalhes como era a vida de um preso político negro ali na prisão. Sim, havia diferença de tratamento entre prisioneiros negros e não negros, normalmente com vantagens, se é que assim podemos chamar, para os não negros.
Ficamos uns quinze minutos numa ampla cela ouvindo seus relatos. Essa cela hoje possui vidro nas janelas, mas na época de prisão eram apenas as grades, por onde passavam o vento e a água das chuvas. Cama? Não existia. Apenas um tapete para cada preso. Banho apenas três vezes por semana, isso se tivesse água. O café da manhã dos não negros era bem mais “farto”.
Eu fico aqui pensando… esse senhor que nos guiou ficou preso por quase nove anos ali naquela prisão. E agora trabalha como guia dentro dela. Ok, a história é bem melhor contada por ele do que por alguém que estudou os fatos. Mas, depois de nove anos, ele ainda permanece ali, com as lembranças vivas. É um homem livre, mas passa o dia na prisão…
Nós passamos por várias alas, ou seções da prisão, e ele nos contava um pouco do que ocorria lá.
A cela de Nelson Mandela
Por último, ficou o corredor onde se encontra a cela que abrigou Nelson Mandela, o mais famoso preso daquele lugar, durante o Apartheid. É a única cela que estava mobiliada. Havia o tapete onde Mandela dormia, um cobertor, uma mesinha e, creio eu, a lata que servia de banheiro.
Ao final do corredor saímos em um pátio e dali para fora da prisão. Bastante solícito, o guia posava para fotos com os turistas.
Caminhamos até o píer e aguardamos uns quinze minutos até embarcarmos. Na volta para a cidade o ferry demorou 1h10min.
Dica: Não programe nada com base nos horários oficiais informados, pois estão todos furados.
Como estávamos ali perto do shopping V&A e já passava do meio-dia e meia, paramos para almoçar. Provamos o tradicional fish and chips (peixe e batatas fritas) sul-africano, num local chamado Fischermans Choice. O atendimento demorou um pouco, mas o sabor estava bom; tudo feito na hora.
O susto
Havíamos marcado o transporte para o aeroporto para as 14h30min em frente ao hotel. Ainda faltavam quinze minutos para as duas da tarde. Chegamos em frente ao hotel faltando exatamente um minuto para as duas horas, e o motorista já estava nos esperando. Era o mesmo motorista que nos trouxe do aeroporto ao hotel. Mas para nossa surpresa e espanto, o senhorzinho da recepção do hotel já estava trancando tudo e indo embora sabe-se lá para onde. Um minuto a mais que demorássemos e ficaríamos sem poder pegar nossa bagagem.
O transfer ao aeroporto levou 40 minutos. O motorista estava calado, bem diferente do primeiro dia. Será que é por que pedimos o desconto de R20 no preço, uma vez que pagamos R20 a mais na vinda por falta de troco? Sei lá.
Como chegamos muito antecipados no aeroporto, enrolamos um pouco até 16h para despacharmos as bagagens. Desta vez não seria necessário recuperá-las em Joanesburgo e re-despachá-las para Perth. Elas iriam direto para a Austrália.
Tchau, Cidade do Cabo
O embarque e a decolagem foram pontuais. Desta vez, por ser horário de jantar, a refeição a bordo não foi um lanche, e sim opção de peixe ou carne vermelha. Um dos comissários perguntou de onde nós éramos e, ao saber que éramos brasileiros, disse que já foi ao Brasil treinar jiu-jitsu com os Gracie, e dando risada mostrou uma cicatriz na testa explicando o porquê de ter parado.
Já no aeroporto em Joanesburgo andamos muito até chegar aos portões de embarque. O aeroporto é imenso, com muitas lojas antes mesmo de chegar às esteiras de retirada de bagagens. Como já estávamos com os bilhetes e não seria necessário despachar bagagem, bastava ir direto ao portão de embarque. Passamos pelo raio-x e pelo controle de passaportes e chegamos em outra área de lojas, essas já próximas ao portão de embarque.
Fomos para nosso portão e ficamos ali por perto esperando o embarque. De repente vimos uma movimentação estranha próximo ao portão. Todos que estavam sentados nas cadeiras tiveram que se levantar e formar uma enorme fila no corredor. Todas as bagagens de mão seriam revistadas. Provavelmente alguma política australiana para impedir a entrada de algum produto ou substância. Nós tínhamos uns biscoitos doces na mochila, e no temor de precisar jogá-los fora, “mandamos pra dentro”.
Por fim, o que estava sendo verificado era a existência de algum creme ou pomada desembalada na bagagem de mão. Tudo deveria estar num plástico “zip-loc”. Líquidos nem pensar, somente os comprados no free shop, e se fosse bebida alcoólica, limitada a 2,5 litros.
A decolagem atrasou em trinta minutos, e o voo para Perth duraria 8h55min. Estranho, seriam dez minutos a menos do que o voo Brasil – África do Sul, sendo que o trajeto é quase mil milhas a mais. Vai ver o avião é mais rápido.
Uma hora depois de decolarmos foi servido o jantar. Dona patroa pediu carne vermelha, e eu pedi frango.
As opções de entretenimento eram muitas, bem mais do que no primeiro vôo. Só na sessão de filmes dava para ficar horas. Porém nem todos tem o idioma Português no áudio ou legendas. Comecei assistir Wolverine Imortal, mas o fone de ouvido estava ruim, com chiado. Como a poltrona era mais confortável, e o voo era noturno, aproveitei para um bom cochilo.